As discussões em torno do aplicativo Uber tornaram-se acaloradas ao longo de 2015. À medida que a Start Up ganhou mais usuários e notoriedade na mídia, os taxistas assumiram um posicionamento mais contundente contra o app.
Com relação ao modelo de negócios do Uber, é indiscutível que ele concorre com os táxis. Ainda que a Start Up diga que não é uma empresa de transporte e que apenas cadastra pessoas interessadas em ser motoristas particulares, isso é pura retórica. O Uber concorre com os taxistas em condições desiguais: não paga licenças à prefeitura e não está sujeito à regulamentação.
Ainda que a base de concorrência não esteja justa, é uma visão míope simplesmente querer barrar a inovação trazida pelo Uber. O mais sensato nesse tipo de situação é o poder público acompanhar as inovações tecnológicas e ajustar as regras políticas e econômicas que amparam nossa sociedade. Afinal, inovações como o Uber traz ganhos imensos à população.
Mas o posicionamento adotado com relação ao Uber nos leva a crer que estamos ainda na Idade Média. Em alguns países, a proibição por parte do Estado ocorreu de forma ditatorial, sem abrir espaço para discussões de como acomodar esse tipo de inovação e seus prós e contras que traz para a sociedade.
O mais curioso é a postura adotada pelos taxistas nos 59 países em que o aplicativo atua. Prejudicados pela concorrência desleal, taxistas do mundo inteiro tem buscado radicalizar no posicionamento contra o app. Fazem passeatas, fecham o trânsito e realizam greves. No Brasil, motoristas do Uber já foram agredidos e até sequestrados por taxistas furiosos.
Quanto mais os taxistas se revoltam e radicalizam no discurso, mais o Uber cresce. Com uma estratégia de marketing controversa e de guerrilha, o Uber se expande com a ignorância da classe de taxistas e com a falta de posicionamento claro do poder público. A cada greve de taxistas, o Uber oferece corridas grátis mundo afora. A cada carro do Uber vandalizado por um taxista, mais pessoas compram a causa do Uber. A Start Up está adorando essa estratégia do “bem” contra o “mal”, do “certo” contra o “errado” adotada pelos taxistas nos quatro cantos do mundo.
O Sindicato dos Taxistas de São Paulo, por exemplo, tem prestado um grande desserviço para seus próprios taxistas quando radicaliza no discurso a ponto de prometer queimar carros do Uber. Se ao invés de ameaçar o Uber, o sindicato pressionasse a prefeitura a mudar as regras, a conversa seria outra. Afinal, os taxistas e empresas como o Uber precisam de novas regulamentações municipais mais justas para se coexistirem.
A maior pressão que o SinditaxiSP poderia promover seria dizer à Prefeitura de São Paulo que caso as regras não fossem alteradas, o sindicato orientaria todos os 34 mil táxis da cidade a pintar o carro de preto e se transformar num Uber. Dessa forma, a prefeitura deixaria de arrecadar suas licenças, IPTU de ponto de táxi entre outras contribuições. Esse tipo de posicionamento seria jogar com as regras do jogo, ao invés de simplesmente agir contra uma inovação. Não tenho dúvida de que com essa postura a prefeitura iria repensar sobre seu ambiente regulatório sem simplesmente proibir a invenção.
As inovações existem para questionar as normas vigentes. O problema é quando os velhos padrões, quando confrontados, lançam um olhar medieval sobre as invenções, e tentam desqualificá-las apenas para manter o status quo. Se eu fosse um taxista, ao invés de gritar contra o Uber, simplesmente trocaria meu carro branco por um preto. Iria pagar menos impostos, teria a simpatia do público e provavelmente iria ganhar muito mais dinheiro.