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Quando uma franquia é um mal negócio

No mundo dos negócios existe uma diferença conceitual entre empreendedor e empresário. O primeiro grupo refere-se a profissionais que se lançam a criar um negócio do zero, seja na definição de um produto e/ou modelo de negócio. Já o empresário é o profissional que investe na gestão de um empreendimento. Não existe profissional melhor do que outro. São apenas estilos diferentes.

Diante dessa diferença conceitual, as franquias sempre foram um tipo negócio que chama muita atenção de empresários. Com a estabilização da economia e aumento da renda nas últimas duas décadas, o mercado de franquias cresceu bastante no Brasil nos últimos anos.

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Hoje o Brasil é 4º maior mercado de franquias do mundo, com cerca de 3000 diferentes redes franqueadoras. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), as franquias brasileiras movimentaram R$127 bilhões em 2014.

Diante de números tão expressivos, é natural que muito empreendedor e empresário tem buscado ganhar dinheiro com uma franquia. Do lado do empreendedor, muita gente tem buscado criar um negócio supostamente inovador e rapidamente transformá-lo em franquia. Alguns já nascem como franquias, sem sequer ter validado seu modelo de negócios. Do lado do empresário, muita gente investe suas economias em alguma franquia da moda na esperança de criar uma fonte extra de renda ou ainda na intenção de ganhar muito dinheiro.

No entanto, a realidade para as franquias não tem se mostrado fácil. Segundo a ABF, o número de unidades por franqueador diminui ano após ano. Para especialistas do setor, um franqueador saudável deve ter no mínimo 50 unidades, para que o ganho de escala com marketing, treinamento e validação do modelo de negócios seja efetivo. Se o número mínimo de lojas é 50, no Brasil temos uma realidade assustadora: 74% das nossas franquias possuem menos de 50 lojas e apenas 13% delas tem mais de 100 unidades, de acordo com a ABF.

O problema das franquias brasileiras não é apenas de escala. A maioria dos franqueadores brasileiros não possui nenhuma experiência com o negócio em que atuam. Esse paradoxo seria cômico se não fosse trágico, afinal uma franquia vende, por definição, um modelo de negócio testado e aprovado, além da experiência do empreendedor em determinado ramo de atuação. Mas isso não tem sido muito comum no Brasil.

O desejo de ganhar dinheiro fácil e construir uma grande marca sem muita consistência de negócio tem alimentado modismos no mercado de franquias. Nos últimos anos surgiram algumas modas, como redes de cupcakes, brigadeiros, bolos caseiros, frozens yougurt, temakis, reparos para casa, esmalterias e as paletas mexicanas.

Todos estes negócios tiveram um boom de diferentes redes, com muito empresário que investiu grandes quantias de dinheiro e a maioria se deu muito mal. São franquias com pouca diferenciação uma da outra, com estratégia de marketing pobre e modelo de negócio com consistência duvidosa.

Vejamos o caso recente das paletas mexicanas. A febre desse negócio começou a surgir a cerca de um ano atrás. Os pioneiros do mercado trouxeram um produto com uma pequena inovação, mas com uma abordagem de venda bem diferente do mercado tradicional de picolés. Conseguiram chamar atenção do público e passaram a vender bem. Com a chegada do verão e o sucesso em vendas, rapidamente surgiram outras empresas, todas com franquias do negócio. Hoje existem quase 40 redes franqueadoras de paletas mexicanas.

No início de 2015, 10 em cada 10 publicação sobre oportunidades de negócio apontavam uma franquia de paleta mexicana como uma excelente oportunidade de negócio para o ano. Teve muita gente que embarcou na nova moda. Mas sejamos críticos: quanto custa uma paleta mexicana? Cerca de R$9,00. Quais produtos, além de paleta mexicana e água uma paleteria vende? Logo, o ticket médio de um cliente de uma paleteria deve girar em torno de no máximo de R$15. Quantas vezes uma pessoa visita uma paleteria por semana? Esse produto possui sazonalidade de vendas? São questões que dificilmente os planos de negócios dessas paleterias consideraram de maneira real, pois as promessas de ganhos eram imensas.

Mas a realidade dos negócios é dura. Em São Paulo, é muito frequente encontrar pontos de vendas de paleterias que fecharam. E a tendência deve se intensificar. Talvez, a grande inovação das paletas mexicanas poderia ser melhor aproveitada se esses produtos fossem vendidos em pequenos freezers em estabelecimentos comerciais, como restaurantes, padarias e bares. Afinal, o custo seria bem mais reduzido.

No final das contas, o mercado de franquias tem essa relação intricada entre empreendedor e empresário. De um lado existem dois sonhadores: um sonha em construir um negócio consistente, com uma marca forte e o outro sonha em investir em um empreendimento que lhe dê uma receita de sucesso. Esses sonhos se tornam problema quando empreendedor e empresário querem ganhar dinheiro fácil.