O novo negócio do Peixe Urbano

O ano de 2010 pode parecer muito distante, mas não faz tanto tempo assim que a febre das compras coletivas surgiu. Em um movimento liderado pelo Grupon nos Estados Unidos, startups nos quatro cantos do mundo apareceram com a intenção de revolucionar o consumo e a maneira de fazer marketing. O Brasil aderiu à onda, inicialmente com o Peixe Urbano, mas o cardume ganhou rapidamente forma e mais de 2000 sites de compras coletivas chegaram a coexistir em nosso mercado.

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Para funcionar, o negócio de compra coletiva exigia pesados descontos dos seus “parceiros” comerciais, que muitas vezes superava 50%. Depois de vendido o cupom, a plataforma de compra coletiva ficava com mais 50% do valor do ticket. Ou seja, os estabelecimentos ficavam com no máximo ¼ do preço normal de um produto ou serviço. Para piorar, a experiência gerada por cupons não era a melhor na maioria dos casos. Os clientes tinham que esperar uma quantidade mínima de vendas para ter acesso ao que comprou, muitos estabelecimentos separavam os clientes oriundos dos cupons dos clientes tradicionais, o que gerava sentimento de exclusão e preconceito. Logo, todo esse esforço para gerar experimentação e conquistar um novo cliente não servia para quase nada.

Ainda que o negócio de compra coletiva apresentava fraquezas claras em seu modelo de negócios, o Grupon conseguiu levantar US$700 milhões em seu IPO, o que o fez ser avaliado em US$ 12,4 bilhões. Mas não demorou para esse castelo de cartas começar a ruir. A competição cresceu em todos os mercados, fazendo com que os sites de compras coletivas gastassem muito mais do que o planejado em marketing para atrair clientes. Os estabelecimentos, por sua vez, perceberam que faziam parte de uma parceria que só um lado ganhava, e que não era o lado deles. Os clientes, do seu lado, passaram a questionar se valia a pena pagar mais barato para ter um serviço muitas vezes infinitamente inferior. Com isso, todo frisson ao redor dos sites de compras coletivas foi passando.

No Brasil, a grande maioria dos sites de compras coletivas fechou e restaram apenas os grandes. Em 2014, o pioneiro Peixe Urbano foi adquirido pelo gigante de internet chinês Baidu. Muita gente questionou na época o porque os chineses estavam interessados no Peixe Urbano além de sua base de 20 milhões de clientes.

Passado um ano da aquisição do Peixe Urbano pelos chineses, a startup brasileira dá sinais de vigor com uma mudança sutil, porém decisiva, do seu modelo de negócios. Hoje o foco do Peixe Urbano continua sendo promoções, porém o seu negócio está muito mais orientado ao seu aplicativo, que apresenta ofertas de acordo com a localização do seu usuário. São ofertas com descontos menores, que não sufoca os estabelecimentos e que podem ser usadas, normalmente, imediatamente após a compra.

Acabou o antigo modelo de apertar restaurantes e clínicas de um lado e oferecer um serviço ruim para o consumidor. Com esse modelo, o Peixe Urbano consegue apresentar um mapa de consumo dentro de cada município em que está presente, com as ofertas de acordo com o desejo do seu usuário. Para os estabelecimentos, o Peixe Urbano deixou de ser uma ferramenta de marketing pouco efetiva e transformou-se em um canal de venda. Basicamente o Peixe Urbano virou uma plataforma de e-commerce, cujo foco principal é a venda de serviços.

Com a mudança de posicionamento, o Peixe Urbano passou fazer transações em mercados que sites de avaliações de estabelecimentos e de reservas de mesas não conseguiram concluir com grande maestria. Por outro lado, essa mudança de paradigma traz novos concorrentes. Toda empresa que possui experiência em vendas mobile ou ainda que utilizam a geolocalização como plataforma de negócio pode querer pescar no aquário do Peixe Urbano. Será curiosa a disputa por esse mercado daqui a diante.

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