Arquivos mensais: setembro 2015

Como as grandes empresas inovam através de startups

Atualmente existe uma grande tendência entre grandes empresas preocupadas em inovação em se aproximar de startups em busca de coisas novas. Um empreendedor pode oxigenar uma grande empresa, trazer novas ideias e oferecer agilidade na solução de um problema.

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Na lista de empresas que seguem esse caminho estão Natura, Telefônica, Braskem, GE Healthcare e Itaú. Normalmente as grandes organizações estão aproximando de uma startup através de quatro possibilidades:

  • Realizar hackathons: trata-se da promoção de maratonas de programação para desenvolvimento de softwares que vão melhorar a vida da empresa. A GE Healthcare, por exemplo, acabou de promover o Hack4Health para aumentar a eficiência dos hospitais.
  • Incubação de startups: embora muitas vezes não se trata de uma incubadora tradicional, grandes empresas estão criando espaços para abrigar startups, num misto de coworking, incubadora e aceleradora. Nesses espaços diferentes startups trocam experiências, se aproximam de investidores e claro, ficam muito próximas da observação da empresa que financia o espaço. Como exemplo, podemos citar o recente lançamento do Cubo, financiado pelo Itaú em parceira com o fundo Redpoint.
  • Premiações: Outra maneira de se aproximar de startups é criar premiações que são oferecidas a empreendedores que solucionem algum problema de uma grande empresa. O Bradesco criou ano passado o concurso InovaBra que buscou startups com soluções para seus desafios tecnológicos.
  • Consultoria: Uma forma mais objetiva de buscar inovação através de uma startup é buscar consultoria de uma agência especializada em inovação, que através de um briefing, encontra a startup com a solução mais adequada para o desafio da empresa. A Pernod Ricard desenvolveu uma máquina que prepara drinques em parceria com uma startup através desse caminho.

Quando uma empresa busca parceria com uma startup, os ganhos são claros: inovação à baixo custo, agilidade e acesso a tecnologia de ponta. Porém, ter acesso a uma miríade de inovações pode ser inútil se a cultura da empresa não estiver preparada para lidar com esse tipo de processo criativo. O empreendedor pode ser um corpo estranho à empresa e suas invenções podem ser subaproveitadas. Pode parecer simples, mas esse choque cultural é bem possível que ocorra.

Do lado da startup, oferecer uma inovação à uma grande empresa pode ser o que difere sua chance de sucesso ou fracasso, pois o acesso ao mercado que a grande empresa pode possibilitar é muitas vezes o ponto de virada da startup. No entanto, a startup não pode se transformar em um departamento de inovação da grande corporação e o empreendedor em um mero funcionário da empresa. Como crescer com a grande empresa, sem depender somente dela? Esse é o desafio do empreendedor. Achar o ponto de equilíbrio nessa relação, tanto da ótica da empresa, quanto da startup, é crucial para que ela dê bons frutos.

Já pensou se todo taxista virasse um Uber?

As discussões em torno do aplicativo Uber tornaram-se acaloradas ao longo de 2015. À medida que a Start Up ganhou mais usuários e notoriedade na mídia, os taxistas assumiram um posicionamento mais contundente contra o app.

 Com relação ao modelo de negócios do Uber, é indiscutível que ele concorre com os táxis. Ainda que a Start Up diga que não é uma empresa de transporte e que apenas cadastra pessoas interessadas em ser motoristas particulares, isso é pura retórica. O Uber concorre com os taxistas em condições desiguais: não paga licenças à prefeitura e não está sujeito à regulamentação.File illustration picture showing the logo of car-sharing service app Uber on a smartphone next to the picture of an official German taxi sign

 Ainda que a base de concorrência não esteja justa, é uma visão míope simplesmente querer barrar a inovação trazida pelo Uber. O mais sensato nesse tipo de situação é o poder público acompanhar as inovações tecnológicas e ajustar as regras políticas e econômicas que amparam nossa sociedade. Afinal, inovações como o Uber traz ganhos imensos à população.

Mas o posicionamento adotado com relação ao Uber nos leva a crer que estamos ainda na Idade Média. Em alguns países, a proibição por parte do Estado ocorreu de forma ditatorial, sem abrir espaço para discussões de como acomodar esse tipo de inovação e seus prós e contras que traz para a sociedade.

O mais curioso é a postura adotada pelos taxistas nos 59 países em que o aplicativo atua. Prejudicados pela concorrência desleal, taxistas do mundo inteiro tem buscado radicalizar no posicionamento contra o app. Fazem passeatas, fecham o trânsito e realizam greves. No Brasil, motoristas do Uber já foram agredidos e até sequestrados por taxistas furiosos.

Quanto mais os taxistas se revoltam e radicalizam no discurso, mais o Uber cresce. Com uma estratégia de marketing controversa e de guerrilha, o Uber se expande com a ignorância da classe de taxistas e com a falta de posicionamento claro do poder público. A cada greve de taxistas, o Uber oferece corridas grátis mundo afora. A cada carro do Uber vandalizado por um taxista, mais pessoas compram a causa do Uber. A Start Up está adorando essa estratégia do “bem” contra o “mal”, do “certo” contra o “errado” adotada pelos taxistas nos quatro cantos do mundo.

O Sindicato dos Taxistas de São Paulo, por exemplo, tem prestado um grande desserviço para seus próprios taxistas quando radicaliza no discurso a ponto de prometer queimar carros do Uber. Se ao invés de ameaçar o Uber, o sindicato pressionasse a prefeitura a mudar as regras, a conversa seria outra. Afinal, os taxistas e empresas como o Uber precisam de novas regulamentações municipais mais justas para se coexistirem.

A maior pressão que o SinditaxiSP poderia promover seria dizer à Prefeitura de São Paulo que caso as regras não fossem alteradas, o sindicato orientaria todos os 34 mil táxis da cidade a pintar o carro de preto e se transformar num Uber. Dessa forma, a prefeitura deixaria de arrecadar suas licenças, IPTU de ponto de táxi entre outras contribuições. Esse tipo de posicionamento seria jogar com as regras do jogo, ao invés de simplesmente agir contra uma inovação. Não tenho dúvida de que com essa postura a prefeitura iria repensar sobre seu ambiente regulatório sem simplesmente proibir a invenção.

As inovações existem para questionar as normas vigentes. O problema é quando os velhos padrões, quando confrontados, lançam um olhar medieval sobre as invenções, e tentam desqualificá-las apenas para manter o status quo. Se eu fosse um taxista, ao invés de gritar contra o Uber, simplesmente trocaria meu carro branco por um preto. Iria pagar menos impostos, teria a simpatia do público e provavelmente iria ganhar muito mais dinheiro.

Quando uma franquia é um mal negócio

No mundo dos negócios existe uma diferença conceitual entre empreendedor e empresário. O primeiro grupo refere-se a profissionais que se lançam a criar um negócio do zero, seja na definição de um produto e/ou modelo de negócio. Já o empresário é o profissional que investe na gestão de um empreendimento. Não existe profissional melhor do que outro. São apenas estilos diferentes.

Diante dessa diferença conceitual, as franquias sempre foram um tipo negócio que chama muita atenção de empresários. Com a estabilização da economia e aumento da renda nas últimas duas décadas, o mercado de franquias cresceu bastante no Brasil nos últimos anos.

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Hoje o Brasil é 4º maior mercado de franquias do mundo, com cerca de 3000 diferentes redes franqueadoras. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), as franquias brasileiras movimentaram R$127 bilhões em 2014.

Diante de números tão expressivos, é natural que muito empreendedor e empresário tem buscado ganhar dinheiro com uma franquia. Do lado do empreendedor, muita gente tem buscado criar um negócio supostamente inovador e rapidamente transformá-lo em franquia. Alguns já nascem como franquias, sem sequer ter validado seu modelo de negócios. Do lado do empresário, muita gente investe suas economias em alguma franquia da moda na esperança de criar uma fonte extra de renda ou ainda na intenção de ganhar muito dinheiro.

No entanto, a realidade para as franquias não tem se mostrado fácil. Segundo a ABF, o número de unidades por franqueador diminui ano após ano. Para especialistas do setor, um franqueador saudável deve ter no mínimo 50 unidades, para que o ganho de escala com marketing, treinamento e validação do modelo de negócios seja efetivo. Se o número mínimo de lojas é 50, no Brasil temos uma realidade assustadora: 74% das nossas franquias possuem menos de 50 lojas e apenas 13% delas tem mais de 100 unidades, de acordo com a ABF.

O problema das franquias brasileiras não é apenas de escala. A maioria dos franqueadores brasileiros não possui nenhuma experiência com o negócio em que atuam. Esse paradoxo seria cômico se não fosse trágico, afinal uma franquia vende, por definição, um modelo de negócio testado e aprovado, além da experiência do empreendedor em determinado ramo de atuação. Mas isso não tem sido muito comum no Brasil.

O desejo de ganhar dinheiro fácil e construir uma grande marca sem muita consistência de negócio tem alimentado modismos no mercado de franquias. Nos últimos anos surgiram algumas modas, como redes de cupcakes, brigadeiros, bolos caseiros, frozens yougurt, temakis, reparos para casa, esmalterias e as paletas mexicanas.

Todos estes negócios tiveram um boom de diferentes redes, com muito empresário que investiu grandes quantias de dinheiro e a maioria se deu muito mal. São franquias com pouca diferenciação uma da outra, com estratégia de marketing pobre e modelo de negócio com consistência duvidosa.

Vejamos o caso recente das paletas mexicanas. A febre desse negócio começou a surgir a cerca de um ano atrás. Os pioneiros do mercado trouxeram um produto com uma pequena inovação, mas com uma abordagem de venda bem diferente do mercado tradicional de picolés. Conseguiram chamar atenção do público e passaram a vender bem. Com a chegada do verão e o sucesso em vendas, rapidamente surgiram outras empresas, todas com franquias do negócio. Hoje existem quase 40 redes franqueadoras de paletas mexicanas.

No início de 2015, 10 em cada 10 publicação sobre oportunidades de negócio apontavam uma franquia de paleta mexicana como uma excelente oportunidade de negócio para o ano. Teve muita gente que embarcou na nova moda. Mas sejamos críticos: quanto custa uma paleta mexicana? Cerca de R$9,00. Quais produtos, além de paleta mexicana e água uma paleteria vende? Logo, o ticket médio de um cliente de uma paleteria deve girar em torno de no máximo de R$15. Quantas vezes uma pessoa visita uma paleteria por semana? Esse produto possui sazonalidade de vendas? São questões que dificilmente os planos de negócios dessas paleterias consideraram de maneira real, pois as promessas de ganhos eram imensas.

Mas a realidade dos negócios é dura. Em São Paulo, é muito frequente encontrar pontos de vendas de paleterias que fecharam. E a tendência deve se intensificar. Talvez, a grande inovação das paletas mexicanas poderia ser melhor aproveitada se esses produtos fossem vendidos em pequenos freezers em estabelecimentos comerciais, como restaurantes, padarias e bares. Afinal, o custo seria bem mais reduzido.

No final das contas, o mercado de franquias tem essa relação intricada entre empreendedor e empresário. De um lado existem dois sonhadores: um sonha em construir um negócio consistente, com uma marca forte e o outro sonha em investir em um empreendimento que lhe dê uma receita de sucesso. Esses sonhos se tornam problema quando empreendedor e empresário querem ganhar dinheiro fácil.