Diariamente empreendedores e executivos se deparam com diferentes escalas de tomada de decisões e em muitas situações, para não se dizer a maioria, compartilhar decisões pode ser benéfico e até necessário para se alcançar um melhor desempenho. São nessas horas que muita gente lamenta não ter uma pessoa mais experiente por perto.
A cultura de se obter ajudar externa, sobretudo entre empreendedores, já é bastante difundida no Sillicon Valley e basicamente todo empreendedor que se preza por lá começa o seu negócio com um mentor. Já no Brasil, a busca por um mentor avançou significativamente nos últimos anos no ecossistema de empreendedores, mas ainda é algo incipiente. Claramente ainda existem algumas dificuldades, muitas relacionadas a questões conceituais sobre qual o papel do mentor.
Em primeiro lugar, existe uma confusão do empreendedor em diferenciar o papel de um coach e de um mentor. É muito comum empresários estarem com alguma dificuldade relacionada ao negócio, como alguma questão regulatória, de posicionamento de mercado ou ainda tecnológica e contratar um coach. Trata-se de um grande equívoco! O papel de um coach é ajudar o profissional a se desenvolver em sua dimensão pessoal. Claro que um coach pode ajudar o empreendedor a estabelecer metas, definir melhor seus objetivos e a planejar seus negócios, porém, cabe ao mentor compartilhar experiências e ajudar o empreendedor com as sutilezas do seu negócio.
A outra confusão que existe sobre o papel do mentor é o mercado o responsável por tal desarranjo. Nos últimos dois anos se proliferam empresas e programas embalados de mentoria que são qualquer coisa, menos mentoring. Em um programa clássico de mentoria, o mentor possui uma relação informal com o seu orientado e não existe nenhuma cobrança por esse serviço. A relação é baseada no companheirismo. São pessoas que querem compartilhar suas experiências, seja para promover o bem e/ou para retribuir alguma ajuda que receberam ou ainda recebem.
Ainda que a relação com um mentor não deva ser remunerada, cada vez mais surgem programas pagos que se autodenominam como mentoring. Dado que o empreendedor e empresário brasileiro estão se despertando para a necessidade de uma ajuda externa, surgiu uma oportunidade de negócio. Estes serviços nada mais são do que programas de board advisors e board directors, que por definição, são pagos e possuem graus de formalidade maior, com reuniões pré-definidas e papéis mais claros dos conselheiros.
Uma vez compreendido os inúmeros papéis de um mentor, por que ainda sim é difícil encontra-lo? A resposta é justamente pela sua natureza informal. Uma vez que se trata de uma relação baseada na benevolência, é preciso encontrar alguém com a experiência que você deseja com esse espírito de ajuda. Outro ponto que dificulta é que os encontros muitas vezes perdem o ritmo, uma vez que não possuem uma frequência definida. A relação com um mentor pode durar meia hora ou anos. Varia caso a caso.
Para mitigar esses riscos, é importante fazer a seleção correta do mentor. O primeiro passo é entender o por que é preciso encontrar um. Não busque um mentor apenas porque está na moda. Identifique os principais pontos que você precisa de ajuda e trace um perfil desse profissional. Pode ser alguém do seu mercado, que já está em outro patamar de negócio, ou ainda alguém que já vivenciou experiências semelhantes em outros empreendimentos.
Uma vez definido o perfil do potencial mentor, é preciso identificar onde encontra-lo. Os lugares são variados, mas pode ser em uma associação de classe, em eventos do mercado, em universidades, no LinkedIn, apenas para citar as opções mais básicas. Uma outra dica é consultar o app de networking Beer or Coffee, em que é possível encontrar alguém para uma conversa informal a partir de busca por interesses. Vale também acompanhar a programação do Cubo e do Google Campus, que possuem com frequência eventos específicos de mentoring. Outra dica é conhecer melhor o trabalho do Founders Institute, que promove uma cultura de ajuda baseada nos programas de mentoring difundidos no Sillicon Valley.
A mentoria é a promoção da cultura da troca, portanto, para que ela funcione de maneira consistente é preciso dar, para depois receber. Logo, se você busca um mentor ou ainda já é assessorado por um, é importante perpetuar esse espírito de ajuda. Independente do estágio de negócio, qualquer empreendedor consegue ajudar outro com algum conhecimento específico. Não pense duas vezes antes de ajudar outro profissional. Isso é fortalecer a cultura de empreendedorismo no Brasil e colocar nossos empreendedores em outro patamar. E com relação aos programas pagos, eles podem ser muito bons, mas lembre-se que eles são qualquer coisa, menos mentoring.