O compartilhamento sempre existiu em nossa sociedade como forma de geração de renda. Seja a dona de casa, que com algum tempo livre cuidava dos filhos do vizinho mediante a um pagamento, ou ainda o dono de um pequeno caminhão que fazia carretos nos finais de semana para complementar a renda familiar.
Já o conceito de economia compartilhada ganhou notoriedade quando diferentes plataformas tecnológicas passou unir pessoas com interesses em compartilhar tempo ou algum bem com pessoas que precisam desses recursos. Através da tecnologia essas transações ganharam evidência e escala, criando uma economia fabulosa, que passou modificar mercados inteiros e gerar muita receita. Foi na crise de 2008, nos Estados Unidos, que a economia do compartilhamento ganhou tração como forma de geração de renda extra.
O mercado da economia compartilhada é tão fabuloso, que em 2014 movimentou U$ 15 bilhões. A estimativa é que nos próximos 10 anos gire algo em torno de U$ 300 bilhões. Se a economia compartilhada ganhou notoriedade com players globais, como o Airbnb e Uber, hoje o conceito está difuso por vários segmentos.
Atualmente é possível você chamar um médico para ir até a sua casa pelo DocWay, uma maquiadora delivery pelo Singu, ou ainda ter um chef exclusivo em sua casa pelo ChefEx, enquanto alguém passeia com seu cachorro contratado pelo Dog Walk.
Ainda que os serviços baseados na economia compartilhada se proliferam e algumas dessas startups estejam sendo avaliadas na casa dos bilhões de dólares, como o Uber e o Airbnb, existe um ponto de atenção que começa a surgir nesses negócios. Para ilustrar, vamos focar nos maiores cases de economia compartilhada: Airbnb e Uber.
O Airbnb é uma startup que movimenta hoje quase 1 bilhão de dólares por ano com aluguel de imóveis sem nunca ter comprado nenhum imóvel. Através da plataforma, muita gente passou a alugar um espaço ocioso em sua casa ou ainda a compartilhar um imóvel que passava maior parte do ano fechada. Com isso, trouxe eficiência ao mercado e gerou renda extra para muita gente. Ocorre que, por conta do imenso sucesso do Airbnb, muitos investidores estão comprando imóveis em cidades disputadas para alugarem na plataforma por temporada. Com esse movimento, o preço dos imóveis nessas regiões estão subindo e o morador comum, que poderia compartilhar seu imóvel, está tendo que deixar essas áreas por conta do aumento dos aluguéis. Ou seja, a economia compartilhada está gerando especulação e o conceito de consumo social se distancia da proposta.
Outro exemplo é o Uber. Quando a startup entrou no mercado de transportes, buscava conectar pessoas que precisavam se deslocar de um ponto a outro na cidade com motoristas que apresentavam agenda livre para prestar esse serviço. O Uber ganhou destaque quando esse serviço passou a ser prestado com qualidade, em detrimento ao mercado tradicional de táxis, que era dominado por frotistas que exploravam taxistas com aluguel de alvarás e veículos e prestava um serviço de qualidade duvidosa.
Hoje o Uber corre o risco, ainda que distante, de cair na vala comum dos taxistas, quando esse mercado começa a se profissionalizar. Hoje já existem pessoas montando pequenas frotas de carros e alugando para interessados em ser motoristas do Uber. Ou ainda é possível alugar carros na Localiza ou Movida por R$1.300 por mês e ser um motorista do Uber. Será que com essa mercantilização vai ser possível manter a mesma qualidade? O que isso difere do mercado tradicional de táxis?
Todas essas iniciativas de entrada de investidores nesses mercados de economia compartilhada, podem ser bem-vindas, mas elas quebram o conceito de economia do compartilhamento. Quando esse conceito é quebrado, voltamos aos mercados tradicionais, talvez com apenas novos players. Mas ainda existe esperança que a economia compartilhada se fortaleça: se as pessoas escolhem um serviço compartilhado baseadas na confiança e na experiência única de prestação de um serviço, talvez elas não serão orientadas apenas pelo preço e aí experiências reais de compartilhamento irão prevalecer. O tempo vai dizer se você pegar um Uber de um frotista é diferente de um motorista que resolveu ganhar dinheiro de compartilhando seu tempo.