Startups tiram o sono dos bancos

Ao longo das últimas duas décadas, startups até então desconhecidas, utilizaram a inovação tecnológica para modificar mercados inteiros. O Napster mudou a maneira como as pessoas consomem música. A Amazon e o E-Bay criaram o comércio eletrônico. O Uber e o Airbnb estão alterando a maneira como as pessoas se locomovem e hospedam nas cidades. Diante de tantas mudanças, um setor que não estava no radar dessas startups era o financeiro. Com instituições poderosas e um mercado bastante regulamentado, as inovações estavam passando distante desse segmento. Mas esse panorama de defasagem parece fazer parte do passado.

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A onda de startups que resolveram questionar o status quo do mercado financeiro surgiu fora do país já faz alguns anos e no Brasil o movimento se intensificou bastante no último ano, em um cenário com a economia em crise, em que pessoas e empresas buscam ganhos de eficiência. As “fintechs”, como são chamadas as startups que oferecem serviços financeiros, estão modificando a maneira como as pessoas tomam um empréstimo, utilizam um cartão de crédito, investem e até recebem cobrança. A seguir algumas fintechs que já estão inovando no mercado brasileiro:

Nubank

O Nubank mal nasceu e já virou um hit nacional. A empresa oferece um cartão de crédito Mastercard Internacional Platinum sem anuidade ou qualquer outra tarifa. Além desse benefício claro, as taxas de juros do Nubank custam no máximo 7,75% ao mês, a metade do que cobra os grandes bancos.

As vantagens do Nubank não se restringem apenas ao seu custo atrativo. Essa startup ainda oferece um aplicativo ao usuário que permite acessar em tempo real os seus gastos e assim realizar um maior controle das despesas. As interações com a empresa também ocorrem de maneira online. O sucesso do Nubank é tão grande que hoje a empresa possui uma fila de 600 mil pessoas à espera de um cartão.

Controly

 Abrir uma conta bancária sempre foi uma atividade burocrática e que tomava muito tempo. A proposta da Controly é facilitar a vida do cliente. Essa startup funciona como se fosse um banco, mas é um app que possui uma conta pré-paga de cartão, que armazena seu dinheiro e permite o cliente realizar transações.

No dia a dia do cliente da Controly ele visualiza gráficos com evolução de gastos ou ainda seleciona um contato na agenda do smartphone ou Facebook para fazer uma transferência. Em pouco mais de três meses de operação a Controly já possui mais de 3 mil clientes.

Biva

 Com o aprofundamento da crise econômica, os bancos ficaram muito mais restritivos na oferta de crédito. Mas pessoas e empresas continuam precisando de dinheiro emprestado. Diante desse cenário de demanda não atendida, surgiu a Biva, startup que promove empréstimos online.

O mercado peer to peer lending (P2P), como é conhecido fora do Brasil, movimentou US$ 5,98 bi ano passado nos Estados Unidos. Em seu modelo original, uma plataforma tecnológica intermedia a operação entre quem quer emprestar dinheiro e quem precisa do recurso. Como a legislação brasileira não permite o empréstimo direto sem a intermediação de uma instituição financeira, a Biva atua como correspondente bancário, ou seja, algum banco empresta dinheiro para a startup, que empresta para o cliente final.

Para obter um empréstimo na Biva o cliente preenche seus dados online e passa por uma análise de crédito rápida. A maior vantagem ainda é pagar taxas de juros menores que o mercado tradicional.

Kitado

 A Kitado é apenas uma entre algumas startups que prometem mudar a forma de cobrar um cliente em atraso. A primeira grande inovação é trocar as constrangedoras ligações de cobranças por interações pela internet. Ao abordar o cliente, a Kitado objetiva, além de recuperar a dívida, manter a relação com o cliente devedor. Por isso utilizam uma abordagem mais leve, em que já oferecem opções de renegociação.

O que estas startups possuem em comum, além de promoverem inovações no mercado financeiro? Uma primeira similaridade é que apresentam uma baixa estrutura de custos, diferente dos grandes bancos, que com suas pesadas estruturas burocráticas e equipes ineficientes, consumem muito mais dinheiro. O segundo ponto é que essas startups colocam o cliente no centro do processo. Oferecer um serviço financeiro melhor para seus clientes é razão de ser dessas empresas, diferente dos grandes bancos, que antes de mais nada buscam preservar seu poder econômico. Por fim, essas startups utilizam tecnologia para entregar mais valor aos seus clientes, sendo que a maioria possuem apps que simplificam e barateiam a relação com os clientes.

De todas as inovações que as fintechs podem promover, certamente as maiores virão na área de concessão de crédito. Até pouco tempo atrás, o modelo de crédito dos grandes bancos era a grande vantagem competitiva dessas instituições. Hoje pode ser um ponto de limitação ao crescimento. Isso porque as startups possuem uma análise mais aprofundada, com ferramentas de big data que analisam as pegadas digitais dos clientes, geolocalização e até o tipo de aparelho tecnológico que o cliente usa. Com todo esse cenário é muito mais fácil mensurar o risco de oferecer um empréstimo, enquanto que os bancos apresentam modelos de análise que se restringem apenas à população bancarizada.

Evidente que as grandes instituições financeiras não estão paradas. Donas de um poder econômico e político gigantescos, elas possuem recursos, ao menos financeiro, para entrar nessa corrida. Resta saber se iniciativas, como a do Bradesco, que criou o programa InovaBra, para apoio de startups ou ainda a do Itaú, de apoiar um coworking para empresas de tecnologia é capaz de romper o conservadorismo quase secular dessas instituições. Mudança de cultura numa empresa normalmente é feita de dentro para fora e leva tempo, recurso que talvez essas instituições não apresentam em abundância.

 

 

 

 

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