Arquivos mensais: março 2016

Os riscos da economia compartilhada

O compartilhamento sempre existiu em nossa sociedade como forma de geração de renda. Seja a dona de casa, que com algum tempo livre cuidava dos filhos do vizinho mediante a um pagamento, ou ainda o dono de um pequeno caminhão que fazia carretos nos finais de semana para complementar a renda familiar.

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Já o conceito de economia compartilhada ganhou notoriedade quando diferentes plataformas tecnológicas passou unir pessoas com interesses em compartilhar tempo ou algum bem com pessoas que precisam desses recursos. Através da tecnologia essas transações ganharam evidência e escala, criando uma economia fabulosa, que passou modificar mercados inteiros e gerar muita receita. Foi na crise de 2008, nos Estados Unidos, que a economia do compartilhamento ganhou tração como forma de geração de renda extra.

O mercado da economia compartilhada é tão fabuloso, que em 2014 movimentou U$ 15 bilhões. A estimativa é que nos próximos 10 anos gire algo em torno de U$ 300 bilhões. Se a economia compartilhada ganhou notoriedade com players globais, como o Airbnb e Uber, hoje o conceito está difuso por vários segmentos.

Atualmente é possível você chamar um médico para ir até a sua casa pelo DocWay, uma maquiadora delivery pelo Singu, ou ainda ter um chef exclusivo em sua casa pelo ChefEx, enquanto alguém passeia com seu cachorro contratado pelo Dog Walk.

Ainda que os serviços baseados na economia compartilhada se proliferam e algumas dessas startups estejam sendo avaliadas na casa dos bilhões de dólares, como o Uber e o Airbnb, existe um ponto de atenção que começa a surgir nesses negócios. Para ilustrar, vamos focar nos maiores cases de economia compartilhada: Airbnb e Uber.

O Airbnb é uma startup que movimenta hoje quase 1 bilhão de dólares por ano com aluguel de imóveis sem nunca ter comprado nenhum imóvel. Através da plataforma, muita gente passou a alugar um espaço ocioso em sua casa ou ainda a compartilhar um imóvel que passava maior parte do ano fechada. Com isso, trouxe eficiência ao mercado e gerou renda extra para muita gente. Ocorre que, por conta do imenso sucesso do Airbnb, muitos investidores estão comprando imóveis em cidades disputadas para alugarem na plataforma por temporada. Com esse movimento, o preço dos imóveis nessas regiões estão subindo e o morador comum, que poderia compartilhar seu imóvel, está tendo que deixar essas áreas por conta do aumento dos aluguéis. Ou seja, a economia compartilhada está gerando especulação e o conceito de consumo social se distancia da proposta.

Outro exemplo é o Uber. Quando a startup entrou no mercado de transportes, buscava conectar pessoas que precisavam se deslocar de um ponto a outro na cidade com motoristas que apresentavam agenda livre para prestar esse serviço. O Uber ganhou destaque quando esse serviço passou a ser prestado com qualidade, em detrimento ao mercado tradicional de táxis, que era dominado por frotistas que exploravam taxistas com aluguel de alvarás e veículos e prestava um serviço de qualidade duvidosa.

Hoje o Uber corre o risco, ainda que distante, de cair na vala comum dos taxistas, quando esse mercado começa a se profissionalizar. Hoje já existem pessoas montando pequenas frotas de carros e alugando para interessados em ser motoristas do Uber. Ou ainda é possível alugar carros na Localiza ou Movida por R$1.300 por mês e ser um motorista do Uber. Será que com essa mercantilização vai ser possível manter a mesma qualidade? O que isso difere do mercado tradicional de táxis?

Todas essas iniciativas de entrada de investidores nesses mercados de economia compartilhada, podem ser bem-vindas, mas elas quebram o conceito de economia do compartilhamento. Quando esse conceito é quebrado, voltamos aos mercados tradicionais, talvez com apenas novos players. Mas ainda existe esperança que a economia compartilhada se fortaleça: se as pessoas escolhem um serviço compartilhado baseadas na confiança e na experiência única de prestação de um serviço, talvez elas não serão orientadas apenas pelo preço e aí experiências reais de compartilhamento irão prevalecer. O tempo vai dizer se você pegar um Uber de um frotista é diferente de um motorista que resolveu ganhar dinheiro de compartilhando seu tempo.

 

Como o smartphone mudou o consumo de jornais e revistas

No ano de 2015 a circulação de jornais impressos caiu 13%. Já o mercado de revistas impressas apresentou recuo maior, de 20%. Os dados são do IVC, o Instituto Verificador de Comunicação. Se por um lado a venda de conteúdo no papel cai ano após ano, o número de assinantes pagos tanto de jornais e revistas cresceu 27% ano passado. Hoje é consenso na indústria de conteúdo que o digital será maior que o impresso em circulação paga.

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Para entender essa mudança de formato de consumo de mídia, é preciso entender que o ritmo do mundo mudou nas duas últimas duas décadas. Hoje é difícil alguém ter 30 minutos ou 1h por dia para se dedicar a leitura de um jornal impresso ou sua revista favorita. Além da falta de tempo, um novo hábito modifica a maneira como as pessoas leem notícias: o smartphone.

Hoje a maioria das pessoas acordam e acessam seu smartphone. É o e-mail do trabalho que é verificado, é uma resposta dada no Whatsup ou uma espiada nas redes sociais. Quando as pessoas acessam as redes sociais, elas acabam consumindo notícias, seja porque alguém compartilhou ou ainda porque ela curtiu a página de um veículo de comunicação.

Ao clicar em uma notícia no Facebook, por exemplo, o leitor vai para a página do jornal, o que aumenta o seu tráfego e eventualmente até o número de assinantes desse veículo de comunicação, caso ele tenha uma boa estratégia de conquista de novos assinantes. Esse fenômeno explica o aumento do número de curtidas nas páginas dos principais meios de comunicação do Brasil, assim como o aumento de assinaturas digitais e queda de circulação do impresso.

Essa nova forma de consumo de mídia tem implicações para publishers e anunciantes. Ao consumir conteúdo digital no smartphone é bem provável que as pessoas estão lendo menos notícias e de maneira fragmentada, ou seja, acessam pequenas quantidades de conteúdo ao longo do dia, seja, quando está na fila do elevador, no trânsito ou na espera de uma reunião.

Esse consumo fragmentado de notícias muda completamente a lógica de comunicação utilizada pelos anunciantes. As home pages dos portais perdem relevância, os anúncios devem estar adaptados para smartphones e ao mesmo tempo surge o desafio de lidar com adblockers e mais: os veículos devem conhecer profundamente os hábitos dos seus leitores para saber o momento exato para postar uma notícia em uma rede social. Isso pode significar o sucesso ou fracasso de uma notícia.

A alteração do formato de consumo de conteúdo traz desafios maiores para os veículos de comunicação. Além da queda de receita fruto da diminuição acentuada de circulação do impresso, jornais e revistas se deparam com o desafio de equilibrar suas operações com um assinante que não quer pagar por um conteúdo online, ou quando paga, quer pagar pouco. E ainda existe a pressão de anunciantes, que assustados com a mudança de hábitos dos consumidores, também não entenderam muito bem como explorar novas possibilidades de comunicação em jornais e revistas digitais e muitas vezes querem investir pouco em anúncios digitais.