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As ilusões da Transformação Digital

A Transformação Digital é assunto que se tornou um dos principais fetiches das áreas de marketing, inovação e tecnologia das empresas, sejam elas gigantes multinacionais ou ainda pequenos negócios. O termo “Transformação Digital” apresenta uso frequente em posts sobre mudanças tecnológicas, em eventos de Growth Hacking ou ainda em conversas de boteco. Mas afinal, o que realmente significa a tão falada Transformação Digital?

O primeiro grande ponto sobre a Transformação Digital é que ela se tornou um termo banalizado no mercado, algo extremamente importante que virou mais um modismo de negócios, assim como a Reengenharia, o Sistema Toyota de Produção ou o Design Thinking foram nos últimos anos. Não se trata aqui de negar o impacto que a Transformação Digital é capaz de causar nos negócios, no entanto, é preciso separar o que é mito sobre o que é fato sobre esse fenômeno de negócio, até para poder aproveitar os seus benefícios.

Do ponto de vista etimológico, Transformação Digital pode ser entendida como o processo pelo qual empresas usam a tecnologia para transformar processos, modelos de negócios, criação e desenvolvimento de produtos e serviços que promovam a completa transformação do seu negócio. É importante frisar que Transformação Digital promove disrupção. Podemos citar como um bom exemplo a Netflix, que ao promover o streaming mudou a lógica de consumo de filmes e mudou completamente esse mercado, impulsionando o fim da Blockbuster e mudando a forma como grandes estúdios de Hollywood ganham dinheiro. Outros exemplos podem ser considerados: Uber, Airbnb, Apple em seus respectivos mercados.

Sendo assim, é importante notar que muita empresa, sobretudo tradicionais multinacionais estão investindo bilhões de dólares em processos de consultoria e aquisição de tecnologia que não são, em essência, programas de Transformação Digital. É aí que surge o conceito de Otimização Digital. Melhorar o fluxo de interação com os clientes, lançar um e-commerce, publicar um aplicativo nas Apps Stores, lançar uma incubadora interna é o grande Hype do momento e é algo vendido com orgulho por grandes empresas e sobretudo bancos nacionais. Mas isso é Transformação Digital?

A resposta é um sonoro NÃO. Transformação Digital não tem a ver apenas com Big Data, Realidade Virtual, UX, Internet das Coisas ou Blockchain. Tudo isso faz parte de processos bem-sucedidos de Transformação Digital, mas não garante a transformação em si, da mesma forma que se você contratar um personal trainer e ir na academia todos os dias não é garantia de que irá emagrecer. Trata-se de um passo importante, mas é preciso ir além.

No caso da Transformação Digital, o que realmente garante seu sucesso é a mudança de mindset, que qualquer empresa que queira praticá-la precisa aderir. E mudança de pensamento passa por pessoas. Primeiro é preciso ter a equipe certa, pronta para essa mudança. Segundo, é crucial permitir que esse time possa operar numa lógica de transformação.

O que se nota é que as grandes corporações estão investindo bilhões de dólares em tecnologia, consultorias e estrutura física, mas não investem nas pessoas e não dão autonomia para elas. Com isso, é importante saber que qualquer processo de Transformação Digital irá ficar pelo caminho. No máximo você terá uma Otimização Digital disfarçada de Transformação Digital. Para muitos isso basta, mas saiba que sua empresa irá correr o risco de ser varrida do mercado, mesmo gastando muito dinheiro e saindo na mídia como uma empresa de vanguarda. Não precisamos ir muito longe: basta citar o caso da Kodak, que criou a câmera digital, a grande responsável pela sua derrocada.

O jogo da Transformação Digital não é simples de ser jogado. As grandes empresas de tecnologia que inspiram esse processo, como Google, Amazon, Facebook, Apple e Netflix são empresas que possuem lógica de negócios diferentes de uma empresa tradicional. Primeiro, possuem um farto capital de risco disponível. Segundo, seus executivos possuem muito mais liberdade para erro. Negócios tradicionais não aceitam muitas incertezas em seu modelo de negócios e penaliza o fracasso de maneira dura.

A literatura e a mídia sobre Transformação Digital enaltecem muito o que funciona sobre essa temática, mas fala-se pouco sobre os casos de insucesso. E eles são muitos, sem querer ser pessimista. Ocorre que Transformação Digital virou um negócio em si, que gera a venda de consultoria, serviços digitais e treinamentos. No entanto, sair dessa cortina de fumaça é crucial para quem realmente quer promover transformação. Talvez, o melhor ponto de partida é compreender o que realmente sua empresa é capaz de mudar. Em muitas, não cabe um processo de Transformação Digital e sim uma Otimização Digital, que pode ser um caminho intermediário à real transformação. A consciência nesse caso pode ser um grande diferencial. Com isso, termino com a seguinte pergunta: onde realmente a sua empresa se encontra?

Como o “executivo piloto automático” fracassa empresas

Quem nunca ao viajar de avião cruzou no saguão do aeroporto ou dentro da própria aeronave com o comandante do avião? Dentro do seu traje impecável, do seu olhar superior e da sua atmosfera resoluta, é ele que conduz o seu voo em segurança, operando uma máquina milionária e complexa.

A descrição deste profissional dos ares poderia ser aplicada a um executivo de uma grande empresa. Trata-se também de um comandante, que dentro de um universo psicológico muito parecido, se assemelha à um piloto de um jato comercial. No entanto, as maiores semelhanças entre um comandante de um avião e um executivo não estão nas suas atitudes e comportamentos e sim na maneira como operam seus ambientes de trabalho.

O piloto de um Boeing 777 conduz um aparelho complexo, que para operar é preciso coordenar o funcionamento em sincronia de diferentes dispositivos. Com ajuda de um copiloto e sobretudo de inúmeros computadores, o comodante da aeronave leva o avião de um ponto A a um ponto B. Durante a maior parte desse trajeto o avião voa no piloto automático, sendo supervisionado pelos pilotos.

As grandes organizações produziram executivos que são réplicas de um piloto de Boeing ou Airbus. Levam empresas de uma ponta a outra operando um painel complexo de indicadores, equipes, comitês, consultorias e ferramentas. Gerenciam organizações apertando um ou outro botão, mas não possuem efetivamente o controle do manche das suas empresas, assim como um piloto de uma aeronave moderna que não pilota sem ajuda de computadores e outros dispositivos.

Porém, os grandes pilotos da aviação comercial nunca abandonaram a sua real vocação de voar. De tempos em tempos saem do conforto do cockpit dos seus jatos e voam pequenas aeronaves, monomotores na maioria das vezes, sem instrumentos complexos de navegação, que para decolar e pousar dependem do real talento dos pilotos. São nestes voos que os pilotos sentem a força da gravidade brigando com a aeronave ou impacto dos ventos no curso do seu voo. Efetivamente estão no comando de um avião.

Onde quero chegar com essa analogia de pilotos com executivos?

As grandes empresas no mundo inteiro formaram profissionais que conduzem negócios complexos e bem-sucedidos, que dentro de seu cockpit empresarial, funcionou muito bem. São executivos que normalmente trabalham em um modelo em que só tomam decisões respaldados de muita informação, que gerem equipes baseados em sua hierarquia, que se valem do sobrenome corporativo para realizar negociações externas, que lançam projetos com budgets elevados e prazos que poucas vezes são cumpridos e mais: como estão em uma organização complexa, qualquer fracasso individual pode ser empurrado para um colega mais fraco politicamente, da mesma forma que o comandante culpa o copiloto por um pouso pouco suave.

Ocorre que o mundo dos negócios mudou numa velocidade que a grande maioria desses executivos não conseguiram acompanhar. Hoje exige-se muito mais protagonismo, agilidade e capacidade de lidar com turbulências, que o executivo em piloto automático não consegue reagir. O profissional que não entende as novas dinâmicas de comunicação, o impacto que a transformação digital trouxe para todo negócio e a maneira como gerir sua equipe de jovens, não é mais capaz de levar sua empresa aonde ele sempre levou.

Hoje é crescente o número desses “executivos piloto automático” que estão disponíveis no mercado de trabalho. Seja porque as grandes empresas já perceberam que o seu comando não é mais efetivo, ou porque se aposentaram, mas como ainda estão jovens e com muita energia, buscam outros desafios.

É nessa hora que esses executivos que passaram a vida inteira pilotando um Boeing 777 buscam empreender ou conduzir negócios pequenos e aí ocorre um verdadeiro choque de realidade: percebem que não sabem mais ou talvez nunca souberam voar um avião pequeno. Desconhecem como trabalhar em uma estrutura enxuta, não sabem quais variáveis controlar, não conseguem migrar do macrogerenciamento para o microgerenciamento, enfim, desconhecem os vetores que movem a empresa.

Neste contexto, é comum ver executivos que geriam unidades de negócios ou empresas que faturavam R$500 milhões por ano e hoje não conseguem tocar o salão de beleza da esposa ou o petshop de bairro da filha veterinária. Isso porque precisam, para tomar uma simples decisão de fazer uma promoção, de estudos de mercado da Nielsen ou ainda de um relatório executivo da McKinsey. Normalmente também pecam na gestão de suas equipes, formadas geralmente por jovens da Geração Y, que se importam menos com hierarquia e salários e buscam muito mais um alinhamento de propósito com a empresa para desempenhar bem suas funções, algo fora do radar dos “executivos piloto automático”. Parêntesis: ainda nem entram em rota de colisão com a Geração Z, que não dá nem valor aos estudos formais, algo muito valorizado por esse executivo que fez seu MBA em Harvard ou MIT.

A grande questão que fica é que são profissionais extremamente competentes que não conseguem conduzir negócios. São gerentes de máquinas burocráticas. Porém, as próprias empresas estão deixando a burocracia de lado. Adotam cada vez mais o pensamento lean, derrubam hierarquias, buscam conduzir suas grandes operações como se fossem um negócio local. Quando uma grande empresa patrocina iniciativas de Corporate Venture, ou seja, de apoiar startups, ela não busca apenas inovação tecnológica. O único ganho que é garantido se esse processo for bem feito é trazer um mindset mais moderno na maneira de pensar e gerir negócios. Algo que o executivo padrão, aquele que voou a vida inteira no piloto automático não possui.

Esse executivo é talentoso e muitos se esforçam para corrigir esse gap, que não é apenas de conhecimento, sendo em grande parte de modelo mental. Em geral, essa correção ocorre em busca de uma pós-graduação ou cursos rápidos nas universidades de ponta aqui do Brasil. É nessa hora que o problema é encoberto: a maioria das pós-graduações de marketing, empreendedorismo e inovação tecnológica aqui do Brasil estão defasadas. O aluno busca instituições de renome, mas que também estão em crise em seu modelo de ensino e vendem cursos que já nascem defasados e que após dois anos de duração, entregam um conteúdo pouco ligado à realidade. Dica: para estudar conhecimentos de tecnologia, inovação e negócios é importante buscar nanodegree, ou seja, cursos curtos e rápidos, ministrado por pessoas que estão vivendo as transformações de verdade.

Para encerrar, gerir um negócio hoje, seja ele próprio ou em uma grande empresa requer controle efetivo do manche da organização. Não é mais possível simplesmente controlar um painel complexo e deixar que o piloto automático conduza a empresa. Essa habilidade é cada vez mais dominada por muita gente, mas assusta ver o número de executivos de alto escalão que ainda desconhece os princípios básicos de condução de um negócio em sua essência, como gestão de canais, construção de diferencias, gestão de equipe, desenho de produtos e serviços dentro de uma ótica mais simples, alinhada ao mundo veloz e efêmero. Trata-se de uma mudança de mindset e não apenas um conhecimento que pode ser comprado em curso caro e que possui um bom selo.

 

Qual o grau de maturidade digital da sua empresa?

Maturidade digital é um termo cada vez mais falado no mundo dos negócios e que pode ser a chave de transformação e/ou sobrevivência de uma empresa ou ainda pode ser apenas mais uma expressão de negócio vazia, empregada apenas para seguir os modismos do momento. No final das contas, a consistência desse termo em um negócio vai depender da disposição da empresa se adaptar a profunda transformação do mundo dos negócios promovida pelas mudanças tecnológicas e de como as pessoas interagem com essas mudanças.

Trazendo uma definição simples, maturidade digital é o grau de evolução, utilização e adaptação de um negócio em relação ao desenvolvimento tecnológico em que a empresa está inserida. Engana-se, porém, quem acredita que a maturidade digital é apenas desenvolvimento de tecnologia pura e simples. Ela possui uma dimensão muito mais ampla e abrange dimensões sobre como os negócios estão se adaptando nos ambientes digitais. Ou seja, não se trata apenas de implementar tecnologia dentro dos muros da empresa, mas de se adaptar ao mundo em uma mudança tecnológica jamais vista na história. Diante disso, as empresas possuem o desafio de construir lideranças preparadas para enfrentar as inúmeras transformações que já estão ocorrendo em cada mercado. Será que as organizações estão conseguindo acompanhar essas evoluções?

Um estudo global da escola de negócios do MIT em parceria com a Deloitte revelou que apenas 25% das empresas abordadas na pesquisa podem ser consideradas maduras digitais. Aqui no Brasil a ESPM Media Lab conduziu um outro estudo para medir o grau de maturidade digital das empresas brasileiras e o levantamento concluiu que 31% das empresas brasileiras são consideradas maduras digitais.

Os números das duas pesquisas não podem ser comparados pois são metodologias diferentes. Outra ressalva que se faz quanto ao estudo da ESPM é que ele está focado em setores com empresas de grande porte, com histórico elevado em investimento em tecnologia, como mercado financeiro, indústria automobilística e de eletrônicos. A verdade é que a realidade brasileira é bem diferente desse universo pintado pela pesquisa da ESPM, em que muitos negócios não possuem sequer um site mobile.

Se por um lado as empresas brasileiras são pouco maduras digitalmente, o povo brasileiro apresenta um grau de maturidade muito mais elevado. Um estudo realizado pelo Kantar Ibope Media demonstra que 68% dos usuários brasileiros que navegam pela internet utilizam smartphones para realizar este acesso. Outro dado que não chega a ser novidade é que 83% dos usuários de internet utilizaram alguma rede social no último mês. Ou seja, trata-se de um público muito mais avançado na adoção de tecnologia do que as próprias empresas. Aqui temos uma dicotomia que gera um grande problema de negócios confirmado pelo estudo do MIT: empresas maduras digitalmente possuem lucros 26% maiores do que organizações similares, mas com maturidade inferior.

Como avaliar a maturidade digital de um negócio

Quando falamos do ambiente tecnológico que pode definir a maturidade digital de uma organização o espectro é amplo e engloba as principais tecnologias a seguir:

  • Mobile
  • Analytics
  • Social
  • Inteligência artificial
  • Blockchain
  • Cloud

Para saber como é o grau de evolução de uma empresa, existe uma metodologia desenvolvida pela dStrategy Media, que apresenta 6 dimensões da maturidade digital de um negócio:

  1. Humana
  2. Recursos tecnológicos
  3. Estratégia de dados
  4. Estratégia de conteúdo
  5. Estratégia de canal
  6. Estratégia social do negócio

O modelo pode ser visualizado abaixo:

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Em cada dimensão do modelo existe um grau de maturidade, que varia nas seguintes escalas: zero, baixo, médio e alto. O modelo pode ser um importante guia para avaliar a maturidade de uma empresa. Uma vez feito o diagnóstico da maturidade digital atual da empresa, o próximo passo é definir um plano de evolução.

A velocidade de evolução da maturidade digital de uma empresa varia para cada setor e também está condicionada à cultura da própria empresa. Além disso, o ambiente competitivo de uma organização afeta diretamente essa maturidade.  Porém, as empresas que querem se posicionar à frente devem também considerar a evolução dos seus clientes, que não vão esperar os executivos de um negócio compreender que o mundo mudou.