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Eleições: uma marotona ou prova de 100 metros?

Há dez anos atrás Barack Obama mudou de vez os alicerces que estruturam a comunicação de uma campanha política ao eleger os canais digitais seu principal meio de comunicação com os eleitores. A campanha vitoriosa do “Yes, We Can” ajudou a projetar um candidato negro, desconhecido, ao posto político mais importante do mundo: a presidência dos Estados Unidos.

Desde a primeira eleição de Obama, as campanhas políticas mundo afora cada vez mais usaram as redes sociais para captar recursos, compartilhar causas e espalhar boatos contra adversários. Até aí nenhuma novidade. Em 2016 o mundo acordou assustado com a inesperada eleição de Donald Trump, mais usa vez com o respaldo das redes sociais, que neste caso ajudou o republicano a espalhar Fake News contra a principal adversária, Hillary Clinton.

Ao longo de uma década grandes pleitos foram sendo cada vez mais influenciados pelo poder descentralizado dos canais digitais, de veículos de mídias não tradicionais e por Fake News. Sendo assim, surpreendeu, quando alguns meses atrás, no Brasil, os principais partidos começaram um jogo de alianças políticas, para dentre outros objetivos, ganhar mais tempo na TV.

O chamado “Centrão”, que agrega partidos de viés de direita, como PP, DEM, PSD, entre outros, foi cobiçado por Ciro Gomes e fechou aliança com Geraldo Alckmin. O pacto conferiu ao tucano 5 minutos e meio na TV, enquanto Jair Bolsonaro, teve 8 segundos durante a campanha de primeiro turno.

Essa imensa discrepância era a grande aposta do PSDB para levar o candidato tucano ao segundo turno e uma das grandes justificativas para se compensar o desgaste da aliança do partido com o dito “Centrão”. O resultado, provado através das urnas, mostra que o jeito de se fazer campanha política mudou completamente.

Com uma campanha enxuta financeiramente e com ares amadores, Jair Bolsonaro soube explorar como ninguém o poder das redes sociais. A primeira vitória do militar reformado foi criar um posicionamento político nos canais digitais logo após o final da eleição de 2014. Aquela mesma eleição que rachou o Brasil entre Dilma e Aécio.

Bolsonaro soube fazer uma leitura política sobre o momento pós eleições 2014, com desdobramentos da Lava Jato e Impeachment de Dilma Roussef e criar uma comunidade engajada em torno da sua figura no Facebook. Trabalhou as eleições de 2018 como uma Maratona e não como uma prova de 100 metros rasos, promessa que o horário eleitoral na TV trazia e que não se cumpriu.

Os resultados do primeiro turno para presidente revelam que campanhas que souberam utilizar os canais digitais conseguiram votos expressivos. Além de Bolsonaro, João Amoêdo ficou em quinto lugar, à frente de Marina Silva, que participou de todos os debates e já disputou três eleições presidenciais.

No entanto, vale ressaltar que por mais que exista um claro deslocamento da estratégia de comunicação das campanhas políticas para os canais digitais, a TV ainda não perdeu a sua importância. No Brasil, existem ainda 30 milhões de eleitores que não acessam a internet. Além disso, grande parte do material veiculado e compartilhado em redes sociais e grupos de famílias são conteúdos oriundos de entrevistas para TV ou ainda trechos de debates televisivos.

Mais do que destacar a mudança do eixo de comunicação das campanhas políticas para novos canais de mídia, é importante colocar no debate político as implicações desse novo modelo de se fazer política. Se por um lado ele é muito mais democrático ao permitir que campanhas com poucos recursos financeiros alcancem visibilidade, por outro, facilita a proliferação de notícias falsas. As chamadas Fake News ajudaram eleger Donald Trump, tiram o Reino Unido da União Europeia e tem elegido governos extremistas em alguns países da União Europeia. Aqui no Brasil, independente do resultado do segundo turno, fica claro que elas possuem papel decisivo para qualquer candidato que venha a se eleger. E o melhor antídoto para as notícias falsas é um eleitor bem informado e educado politicamente, algo cada vez mais difícil de encontrar mundo afora.