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Meme inofensivo ou um elaborado plano para roubar seus dados?

Na última semana é bem provável que você se deparou com centenas de pessoas postando fotos de dez anos atrás juntamente com uma foto atual, seguida da hashtag #10yearchallenge. O meme viralizou mundo afora, sobretudo no Facebook, Instagram e também no Twitter.

Para quem não acompanhou a brincadeira, ou desafio, como alguns preferem chamar, as postagens consistiam em você postar uma foto de 10 anos atrás, ao lado de uma foto atual. Em princípio era uma postagem para mostrar como você evoluiu ao longo de uma década.

Alguns postaram fotos mais gordinhos no passado, agora em plena forma física. Outros publicaram imagens do tempo de faculdade e hoje ao lado de filhos. Tiveram aqueles também que partiram para a brincadeira e criaram grandes memes, com evoluções engraçadas.

10yearchallenge

A hashtag #10yearchallenge ganhou adeptos notórios, incluindo celebridades como Jennifer Lopez, Queen Latifah, Kate Hudson, entre outros famosos. Mas não pense que foram apenas os notáveis do show business que entraram na farra. Grandes marcas pegaram carona nas redes sociais e fizeram a sua comunicação institucional pautada pela hashtag.

10yearchallenge-emirates

Além do burburinho causado nas redes sociais, da diversão promovida por alguns, pela futilidade gerada por outros, por que deveríamos olhar para este episódio com um olhar um pouco diferente da maioria, sobretudo se você trabalha com marketing e tecnologia?

Ninguém sabe ao certo como e onde surgiu o desafio do 10 Year Challenge. A princípio trata-se de mais um meme gerado nas redes sociais, que se espalha em escala planetária. Contudo, a possibilidade concreta que a brincadeira trouxe de evoluir os mecanismos de reconhecimento facial levanta a suspeita de que foi uma ação previamente planejada.

Para quem ainda não está perfeitamente por dentro, nos últimos anos o avanço tecnológico permitiu que sistemas de inteligência artificial realizasse o reconhecimento facial de maneira autônoma. Dessa forma, um computador é capaz de dizer que você é você mesmo em uma foto. O Facebook, por exemplo, já utiliza reconhecimento fácil há pelos 5 anos em larga escala na sua plataforma.

A tecnologia foi evoluindo e anda cada vez mais por conta própria. O nome técnico para isso é machine learning, ou seja, a máquina aprendendo por conta própria. Sabe quando você assiste uma série no Netflix sobre assassinatos e depois e própria plataforma te recomenda um filme com serial killer? Isso é machine learning!

Até aí estamos mencionando uma aplicação de Inteligência Artificial (IA) amplamente usada por diferentes empresas, de redes sociais, a plataformas de streaming ou ecommerce. Um ponto sensível nessa tecnologia de machine learning é que existem muitos algoritmos que estão “sendo treinados” neste momento para se aperfeiçoarem em progressão de idade, ou seja, em identificar como uma pessoa fica velha.

Já existe muito algoritmo com essa capacidade em identificar como a fisionomia de uma pessoa evolui com o passar do tempo. Contudo, esse tipo de habilidade ainda requer bastante aprimoramento. Diante desse desafio, quando vemos pessoas publicando fotos de hoje, versus fotos de uma década atrás, certamente elas estão prestando um grande serviço para os algoritmos do Facebook.

Sei que muita gente irá argumentar que várias pessoas usaram fotos que já estavam publicadas no Facebook ou Instagram. É verdade, mas quando elas publicam uma foto lado a lado, isso facilita o trabalho de análise dos algoritmos, sem contar que adiciona precisamente uma cronologia, no caso, os 10 anos. Além disso, muitos usuários das redes sociais publicaram fotos novas, sendo que muitas foram até escaneadas para atender o desafio.

O Facebook, desgastado por questões relacionadas à privacidade, nega veemente que se trata de uma ação articulada pela plataforma. A rede social afirma que se trata de mais uma ação criada e mantida pelos usuários. Independente de quem criou a ação, fato é que a imensa quantidade de dados gerados pelas pessoas serão muito bem usadas pelos algoritmos para se aprimorar as ferramentas de reconhecimento facial e progressão de idade. No mundo dos dados, uma simples foto de antes e depois carrega muito mais informações que você pode imaginar.